sábado, 18 de julho de 2009

Causas da irritação do companheiro

Carlos Chagas

Claro que os psicólogos responderiam com muito mais competência e certeza do diagnóstico, coisa que não nos impede, simples mortais, de arriscar palpites. Sobre o quê? Sobre a crescente irritabilidade do presidente Lula quando, em improvisos ou numa dessas múltiplas entrevistas de beira de calçada, investe com diatribes e agressões sobre o objeto das perguntas e às próprias, neste caso, ou dá vazão a sentimentos variados, naquele.
O companheiro-mór anda bravo com o mundo, chamando os oposicionistas de pizzaiolos, os aliados de incompetentes e os jornalistas de desafetos. Parece haver baixado nele o espírito do general Ernesto Geisel, aquele que além de presidente da República era ministro de todas as pastas, diretor de todos os departamentos e chefe de todas as seções do serviço público. Transforma-se, o Lula, em dono das verdades absolutas, detentor único das soluções para problemas políticos, econômicos e administrativos. Até mesmo sua tradicional bonomia e seu sentimento de tolerância vão cedendo lugar à intransigência. Fenômeno estranho, porque ao invés de a candidata Dilma Rousseff absorver as qualidades do chefe, antes abertas ao diálogo e à absorção de críticas, é ele que parece haver sido inoculado pelo germe da agressividade e da falta de indulgência para quem pensa ou age diferente.
O importante, para os psicólogos, é analisar profissionalmente e conhecer a causa da mutação de sentimento dos pacientes, ainda que a nós, cá de baixo, sempre seja permitido arriscar impressões periféricas.
Estará o presidente percebendo que Dilma Rousseff não chega lá? Que precipitou-se ao impor a candidatura da correta chefe da Casa Civil, excelente administradora mas carente de experiência política? Porque, nesse particular, não adianta falar grosso, elevar a voz, dar ordem unida e comportar-se como mestre-escola. Pontificar é perigoso, impor, mais ainda, para quem depende da opinião e do voto dos outros.
Há que aguardar os próximos lances e os novos episódios dessa novela de suspense em que se transforma a sucessão presidencial. Com prazo ou sem prazo para dona Dilma decolar, a verdade é que a sombra da derrota começa a surgir no horizonte, apesar da vasta propaganda e da cortina-de-fumaça levantada no palácio do Planalto e arredores. O risco é de o programa governamental em curso nos últimos sete anos sofrer solução de continuidade e ser substituído pelo plano de vôo dos tucanos.
Novas perspectivas
O saudoso dr. Ulysses dizia que o atual Congresso sempre era pior do que o anterior e melhor do que o próximo. Há dúvidas, diante da lambança revelada pelas denúncias de abusos parlamentares, antigas mas apenas agora conhecidas. Continuando as coisas como vão, o próximo Congresso só poderá ser melhor do que o atual, já que pior é impossível. Tudo indica que a renovação na Câmara dos Deputados e, em especial, no Senado, será arrasadora. A pergunta que se faz é se a tendência para as eleições parlamentares do ano que vem contaminará as eleições de governador. A ânsia por escolher candidatos desvinculados das práticas denunciadas pode até não dar resultado, quem sabe os eleitos oferecerão espetáculo ainda mais lamentável do que o encenado pelos atuais? Mesmo assim, a busca de novos deputados e senadores poderá contagiar a procura por novos governadores. Será um desastre para as oligarquias e até para honestos esquemas de poder em exercício, mas essas coisas costumam pegar mais do que sarampo. Coincidência ou não, começam a aparecer nos estados candidatos desvinculados das lideranças em exercício. Acima e além de partidos, é bom prestar atenção nos movimentos não ortodoxos. Até mesmo nos de origem religiosa, o que pode ser, com todo o respeito, um perigo dos diabos…

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