terça-feira, 21 de julho de 2009

Corrupção, uma nova cultura no pais

* Pedro do Coutto


Neste final de semana, os historiadores Marco Antonio Villa, em entrevista a Adauri Antunes Barbosa, O Globo, e Boris Fausto em artigo publicado em O Estado de São Paulo, edições de domingo, cada qual à sua maneira focalizaram o avanço da corrupção no país nos tempos modernos –para citar Chaplin- , mas concluíram suas teses de forma diversa. Ambos desenvolveram raciocínios teóricos e não focalizaram os pontos práticos da questão. Marco Antonio Villa acredita ingenuamente que o Brasil está se preparando para virar a página da crise dose nado, pois a seu ver ela é produtiva na medida em que assinala a superação política de José Sarney, principal foco de um mar de denúncias. Boris Fausto analisa a corrupção em sua perspectiva histórica, reconhecendo contudo que a velocidade de seu crescimento é muitas vezes maior que o das punições que sobre ela incidem. São ambos ensaios intelectuais que parte de prismas idealizados e pouco reais. Boris Fausto, entretanto, aproxima-se muito mais do plano concreto do que se reflete o pensamento de Marco Antonio Villa.
Para Marco Antonio Villa, o enquadramento do senador Sarney dentro da ótica da ética deve significar uma página virada na história do país, abrindo assim a perspectiva de uma redenção moral. Não é nada disso. Com ou sem Sarney, a corrupção vai prosseguir seu trajeto veloz porque as condições que levaram a esta aceleração não foram eliminadas. Boris Fausto é mais claro quanto ao processo e mais cético quanto aos efeitos de avalanche de denúncias que desabem sobre o presidente do Senado e sua família. Se eu tivesse que escolher entre uma tese e outra não ficaria com nenhuma das duas.
Porque penso que a corrupção, principalmente a partir do movimento político militar que derrubou o governo Goulart em 64, foi se alastrando de tal forma que terminou cristalizando concretamente uma nova cultura no Brasil: a da corrupção. Ela passou a ser considerada um fenômeno positivo, descompromissado com a sociedade, consagrando efeitos individuais no lugar dos interesses coletivos. Os desonestos passaram a ser cultuados, os honestos vistos sob desconfiança. O fato de alguém ser honesto passou a ser quase um defeito. Algo desagradável, intoxicante. Construir algo de coletivo transformou-se em atitude utópica, ridícula, motivo de deboche e menosprezo, algo passadista e bizantino. O objetivo de lucro e riqueza a qualquer preço, de qualquer maneira, substituiu no plano do conceito positivo, o comportamento correto.
Conta-se até como anedota a pergunta que um político fez a um governador de Estado: o senhor vai nomear fulano párea uma Secretaria? Não faça isso. Esse homem é honesto. Ou então a peada inspirada em Oscar Wilde: um dirigente chamou auxiliares seus e pediu a indicação de alguém para determinado posto. Os indagados perguntam: _Não serve Ernesto? Antigamente não era assim.


* Jornalista

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