
Por Claudio Abramo
PS: Esta nota foi escrita ontem à noite. Hoje constato que a fala de Lula comentada na nota está sendo por alguns entregada aos desavisados como se referindo apenas aos senadores da oposição a seu governo. Não procede. Lula não fez essa ressalva. É interessante observar que os que fazem a entrega distorcida estão dos dois lados da “trincheira”. A motivação é oposta, mas a distorção é deliberada e o resultado é o mesmo.
A frase predileta do presidente Lula começa com “nunca houve neste país”. O complemento são as realizações reais ou imaginárias de seu governo. (Apresso-me a esclarecer que louvar realizações imaginárias é esporte universalmente praticado por quem esteja no poder, da Conchinchina à República do Togo.)
Uma das coisas que este país nunca viu foi um presidente da República dizer o que Lula disse ontem sobre os senadores (atrevo-me a extrapolar para os políticos de modo geral). Disse ele que os senadores são uns bons pizzaiolos. Referia-se ao destino da CPI da Petrobras, antecipando que dará em nada.
Não me ocuparei de CPI da Petrobras, assunto maçante que divide o noticiário político com as picaretagens do Senado. Quem quiser se informar sobre CPI é melhor que interrompa a leitura por aqui.
Nada há a objetar quanto à literalidade do que Lula afirmou. É a mais pura verdade. Ele, como todos os seus antecessores no Planalto (com exceção de seu hoje aliado Collor, que não amassou a massa direito e foi escafedido), e igualmente governadores e prefeitos bem sucedidos pelo Brasilsão afora, sabem bem como misturar os ingredientes de uma boa pizza parlamentar. Quem não é bem sucedido não soube amassar a pizza.
Mistura-se a pizza comprando-se uma quantidade suficiente de políticos. São adquiridos pelo loteamento do Estado entre os partidos da “base”. É o que faz um governante de sucesso. É claro que a compra nao é feita à vista, mas a prestações cujos juros podem variar com o tempo.
É ainda necessário “administrar a base” continuamente, a saber, segurar a concuspicência da turma quando uns ameacem invadir o território de caça de outros, algo que procuram fazer incessantemente. Dá um trabalho danado.
Certa vez um amigo comentou que a diferença fundamental entre o governo FHC e o governo Lula é que o primeiro comprava os pizzaiolos do Congresso mas tinha vergonha disso, enquanto o segundo não só faz o negócio sem nenhum problema como ainda se jacta e exibe a mercadoria em praça pública.
Cada vez mais parece que o caso é esse mesmo. Lula manifesta desprezo infinito pelos políticos. Compra-os e, uma vez assinado o contrato, leva-os a passear na praça pela coleira.
Quando Lula aparece em comício nas Alagoas ao lado de Collor, o espetáculo não representa um rompimento com o seu próprio passado, mas a exibição da mercadoria adquirida. (Sem dúvida haverá quem interprete de forma inversa.)
Nunca houve neste país um líder que escancarasse com tamanha limpidez o esgoto que é a política brasileira.
Esgoto esse que não é novidade e não foi inventado em seu governo, como a mera longevidade política de Sarneys e Renans e Jucás torna auto-evidente.
É cedo para julgar se, sob o ponto de vista pragmático, o programa “compra e mostra” levará no longo prazo a resultados melhores do que a estratégia tradicional do “compra e esconde”.
O único que se pode talvez esperar, ou almejar (embora esperanças nesse território sejam alimentadas por conta e risco de cada um), é que, em algum momento no caminho, talvez na próxima geração, a coisa toda se dissolva por podridão.
Uma das coisas que este país nunca viu foi um presidente da República dizer o que Lula disse ontem sobre os senadores (atrevo-me a extrapolar para os políticos de modo geral). Disse ele que os senadores são uns bons pizzaiolos. Referia-se ao destino da CPI da Petrobras, antecipando que dará em nada.
Não me ocuparei de CPI da Petrobras, assunto maçante que divide o noticiário político com as picaretagens do Senado. Quem quiser se informar sobre CPI é melhor que interrompa a leitura por aqui.
Nada há a objetar quanto à literalidade do que Lula afirmou. É a mais pura verdade. Ele, como todos os seus antecessores no Planalto (com exceção de seu hoje aliado Collor, que não amassou a massa direito e foi escafedido), e igualmente governadores e prefeitos bem sucedidos pelo Brasilsão afora, sabem bem como misturar os ingredientes de uma boa pizza parlamentar. Quem não é bem sucedido não soube amassar a pizza.
Mistura-se a pizza comprando-se uma quantidade suficiente de políticos. São adquiridos pelo loteamento do Estado entre os partidos da “base”. É o que faz um governante de sucesso. É claro que a compra nao é feita à vista, mas a prestações cujos juros podem variar com o tempo.
É ainda necessário “administrar a base” continuamente, a saber, segurar a concuspicência da turma quando uns ameacem invadir o território de caça de outros, algo que procuram fazer incessantemente. Dá um trabalho danado.
Certa vez um amigo comentou que a diferença fundamental entre o governo FHC e o governo Lula é que o primeiro comprava os pizzaiolos do Congresso mas tinha vergonha disso, enquanto o segundo não só faz o negócio sem nenhum problema como ainda se jacta e exibe a mercadoria em praça pública.
Cada vez mais parece que o caso é esse mesmo. Lula manifesta desprezo infinito pelos políticos. Compra-os e, uma vez assinado o contrato, leva-os a passear na praça pela coleira.
Quando Lula aparece em comício nas Alagoas ao lado de Collor, o espetáculo não representa um rompimento com o seu próprio passado, mas a exibição da mercadoria adquirida. (Sem dúvida haverá quem interprete de forma inversa.)
Nunca houve neste país um líder que escancarasse com tamanha limpidez o esgoto que é a política brasileira.
Esgoto esse que não é novidade e não foi inventado em seu governo, como a mera longevidade política de Sarneys e Renans e Jucás torna auto-evidente.
É cedo para julgar se, sob o ponto de vista pragmático, o programa “compra e mostra” levará no longo prazo a resultados melhores do que a estratégia tradicional do “compra e esconde”.
O único que se pode talvez esperar, ou almejar (embora esperanças nesse território sejam alimentadas por conta e risco de cada um), é que, em algum momento no caminho, talvez na próxima geração, a coisa toda se dissolva por podridão.
FONTE: TRANSPARÊNCIA BRASIL
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