O governo é corrupto e incompetente, com uma presidente que não
dá conta do recado, uma presidente isolada e que não consegue governar. De modo
que apoiamos, sem sombra de dúvida, a saída do governo o quanto antes.
As cores e o coro das ruas
MARY ZANDAN
Twitter: @maryzaidan
Serão milhares ou
milhões. E não é isso que importa. As manifestações deste domingo têm tudo para
ir muito além dos pixulecos, do fora Dilma, fora PT, fora corrupção. Nelas
estão as apostas de redenção do país, mergulhado em profunda recessão
econômica, afogado política e moralmente.
Não por outro
motivo, todos os acontecimentos da atribulada semana que passou se vincularam
ao domingo 13. E também os futuros, como a conclusão, pelo Supremo, do rito do
impeachment, marcado para a próxima quarta-feira.
Lula, que já havia
incorporado o mártir na sexta-feira, 4, quando foi levado coercitivamente para
depor no âmbito da Lava-Jato, se dedicou a aprofundar a vitimização. Levou sua
dramatização às rodas de poder da República, em reuniões com a presidente Dilma
Rousseff e com a cúpula do Senado – também enrolada nas investigações sobre a
roubalheira na Petrobras. E continuou a incentivar a presença de suas tropas
nas ruas.
O presidente do
PT, Rui Falcão, chegou a ir ao Planalto explicar, oficialmente, que
manifestações pró-Lula e contra o impeachment iriam ocupar os mesmos locais já
reservados há mais de dois meses pelos anti-Dilma. Diante do temor de que a
briga de torcidas virasse batalha de fato, recuou no mesmo dia.
Com ritmo
esquizofrênico, os mesmos apoiadores convocados para guerra pela manhã tiveram
de dar baixa oficial à tarde.
Ciente da direção
do vento, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que até então evitara
qualquer vinculação com atos contrários ao governo federal, tirou a sua
casquinha. Não só informou que proibiria a aproximação dos pró-Dilma e Lula,
como anunciou presença na Avenida Paulista.
Na quinta-feira, o
pedido de prisão preventiva de Lula acabou ofuscando a bem fundamentada
denúncia do Ministério Público de São Paulo sobre o tríplex do Guarujá. Reabriu
a discussão em torno dos riscos de embate neste domingo e fez com que oposição
e governo se unissem no ataque à peça.
Até aí - ainda que
por vezes leviano -, tudo se encaixou dentro do jogo de dar e esticar a corda,
de saber ou não aproveitar o desgaste de um lado e do outro depois que o PT
dividiu o país em “nós” e “eles”.
Mas Dilma, sempre
ela, abusou do direito de confundir as bolas, algo que faz com frequência.
Primeiro, garantiu
que não deixará o governo, com a hilária frase “é impossível que eu me
renuncie”. Depois, ao criticar a cautelar contra Lula, destituiu-se de seu
cargo: “é um ato que ultrapassa o bom senso. Um ato de injustiça. É um absurdo
que um país como nosso assista calmamente um ato desses contra uma liderança
política responsável por grandes transformações no país. Respeitado
internacionalmente. O governo repudia em gênero, número e grau esse ato
praticado contra o presidente Lula.”
Desrespeitou as
instituições, ao atribuir mérito a algo que está nas mãos da Justiça, e o
conceito republicano de igualdade diante às leis, colocando Lula acima dos
comuns. Algo que até se admite em um militante errático, jamais em um
presidente da República.
E mais: ao
considerar absurdo que o país assista “calmamente” ao ato contra o ex, colocou
lenha na fogueira. O que queria ela? Incendiar as ruas? A frase é pólvora pura.
Só não é um perigo porque Dilma não lidera nada nem ninguém.
Não tem
compromisso algum com o que disse um minuto antes. Talvez isso explique sua
confusão mental, o desentendimento permanente que ela tem com as palavras.
Seus ditos têm-se
como desditos.
Incita ódio logo
depois de pedir paz e de revelar temor quanto às manifestações de hoje.
Justifica a ausência na festa dos 36 anos do PT dizendo que não governa “só
para o PT”, mas para “204 milhões de brasileiros” e usa fundos públicos para
prestar solidariedade ao padrinho. Coloca o Estado à mercê de Lula, que dele
pode fazer o que bem quiser. Se precisar virar ministro, vira. Se preferir uma
embaixada, terá. Se quiser se safar...
É aqui, exatamente
aqui, que entra o coro das ruas.
Serão milhares ou
milhões. Não importa. Camisetas e bandeiras verde-amarelas, apitos, pixulecos.
Contra Dilma, Lula, o PT. Contra a corrupção, a canalhice, a mentira. A favor
do Brasil.
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